domingo, 5 de março de 2017

tomara que um dia
a poesia 
te engasgue
e uma música de gal te faça lembrar , "meu amor tudo em volta está deserto"
tomara que 
você tome chuva pedalando na avenida
tomara que as notas do teu violão
não desafinem
no primeiro acorde
tomara que teu telhado não caia,
e as colunas da tua essência não desmoronem
tomara que você sambe um samba,
bebendo a cerveja que mais gosta,
tomara que você receba uma mensagem de volta,
tomara que alguém retorne tua ligação
e
te tire de casa
num domingo
para amar a cidade
te mostrar um livro
 e chorar com coisas mais simples

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

[ todo domingo ]

todo domingo
escrevo cartas e as guardo,
domingo é uma terapia,
é um pássaro pousado
na minha testa
oscilando entre assobio e sonolência.
todo domingo
eu leio poemas contemporâneos,
ouço música da áfrica,
e tenho saudade
dos lugares escondidos
dentro dos meus sonhos.
todo domingo eu quero um dengo,
troco a roupa da cama,
às vezes quero morrer,
mas melhoro logo
depois da primeira selfie.
todo domingo
me desfaço das mentiras confortáveis
que me contaram,
e cuido de mim
acedendo incenso.
todo domingo
quero fazer revolução
mas também
quero ir à praia.
e deus que me livre
de me preocupar
em falar corretamente.
são 24 horas, e
toda poesia salva meu domingo.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

cá entre nós,
quem não tem medo de radiografia?
a vida não afaga ninguém.
cá entre nós,
chá é melhor do que sexo
cá entre nós,
toda mãe tem um pouco de mestra e louca
cá entre nós,
não ouvimos mais o rádio.
cá entre nós,
estamos tão solitários,
não podemos andar nus.
nos contaram mentiras demais
cá entre nós, não se assuste com o plantão da globo,
e beije logo aquela boca.

[ amor vandal ]


vândalo , amor
duas mulheres,
ela e ela
juntas, soltas
bruxas, loucas
em verbo: luta. 
amor é quando 
a gente 
põe fogo na estrada 
e faz barricada na porta da confusão.
afeto não precisa 
de mandato
explode no peito 
feito bomba
de efeito que não fere nem mata
que não é de moral,
mas é de respeito
amor , aqui, meu filho
é um pixo no muro com tinta preta

o coração é só
um órgão muscular,
oval
oco
guardado na caixa torácica ,
se quiseres medir o tamanho do teu,
fecha o punho

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

[ m. m. ]

sei que você quer dançar comigo,
posso manter segredo,
mas preciso dizer
que estou fascinada
pelo teu olhar amedrontado
atravessando as avenidas,
pelas tuas mãos frias em meu rosto
pela tua boca entre aberta 
no milésimo de segundo antes do riso
pelo fio inquieto do teu cabelo na testa,
teu vale
e tua serra me fascinam.
e eu sempre soube dessa dança
dessa música 
tocando no silêncio dos nossos encontros.
preciso dizer que
é muito bom falar contigo,
sobre arquitetura, saúde,
músicas novas,
sobre a cidade,
sobre pessoas que nunca vimos,
sobre as problemáticas que já existem
nos problemas corriqueiros ,
você é muito boa para mim. 
te quero , não para assisti a TV  no domingo,
para escolher o café,
a romã
e pedalar procurando sombras
o que são kms de distância perto 
desse esboço imperfeito
daquilo que somos tão próximos
aqui ?




[ primeiro ]

escute
o relógio e meus dedos batucando na ponta da mesa
onde teu copo marcado de batom treme
eu lembro da primeira coisa que me disseste, vida
foi algo como ...
"posso te fazer uma pergunta",
a primeira coisa que o coração não lê
é o que é dito na cara.
eu lembro da primeira onda de calor
ao som de folhas espargidas
os primeiros detalhes que eu não lembro,
são as coisas que ficaram escritas
na parede da minha revolta.
no primeiro dia do ano
escreva para sua família,
jogue pela janela , não só no primeiro dia do ano,
mas todos os dias que julgar necessário,
as roupas velhas, dos anos antigos.
eu digo que ,
na primeira estação da viagem longa
estarão postos diante de ti:
as primeiras coisas, as primas,
os prazos.
lembrar que não é o primeiro gole
que mata a sede
e nem a primeira chuva
que vai fazer o céu desabar
também não é o primeiro amor que vai
fazer morrer
é preciso , primeiramente, ler um poema.